Ontem à noite fiquei muito triste por o Ricardo não ter defendido o penalty, e hoje sinto-me nostálgica. É uma faceta da minha natureza.
Quando era pequena e me sentia assim saía de casa e dava longos passeios a pé pelos pinhais, pela quinta do avô João; sentava-me nalguma rocha à beira do ribeiro e ficava a ver as evoluções da água a descer pelas poldras e o canto dos pássaros na copa dos pinheiros devolvia-me a paz.
Hoje não posso fazer isso, mas posso recordar e escrever aqui da frugalidade e das coisas simples que rodearam a minha infância, simples como aquele avô, que era tímido, que trabalhava muito e sabia todos os segredos do tempo e das sementeiras, e que nunca conheceu mundo.
Lembro-me que gostava muito de queijo picante, e que não havia Natal em que não reclamasse a sua açorda de feijão com cominhos.
A minha mãe, citadina, aprendeu como se fazia para o presentear, e hoje não há Natal em que não a partilhemos na consoada, em memória dele.
Para nós no Natal pode haver bacalhau, filhozes, sonhos... se não houver a açorda, não é Natal.
Mas como estamos em Julho, vou deixar aqui a receita de "migas de tomate" da minha mãe, também lendária, e que as minhas filhas acham que eu nunca faço como ela!
Cobrir o fundo de um tacho com azeite e cortar lá para dentro cebola às rodelas finas e tomate, limpo de peles e sementes, cortado aos bocados, mais uns dentes de alho picados e uma folha de louro. Deixa-se refogar um pouco, para desfazer o tomate, adiciona-se a água suficiente para as "migas"e deixa-se ferver para apurar. Corta-se o pão às fatias finas, deita-se no tacho e deixa-se abeberar bem e apurar. Tempera-se com sal e pimenta.
Quem gostar pode juntar ovos batidos, misturando tudo muito bem, coisa que ela quase nunca faz, pois gosta de servi-la só assim, com peixe frito.
Outra forma típica de a preparar naquela zona consiste em juntar à cebola e ao tomate, enquanto refogam, uma posta de bacalhau limpa de peles e espinhas. Para além disso o método de preparação mantém-se o mesmo. Neste caso constitui quase sempre um prato completo.
Podem ainda salpicá-la com salsa ou coentros picados.
2 comentários:
eu faço da mesma maneira com 3 ressalvas . Migo o pão antes de o juntar à panela , deito oregãos ( eu deito oregaos em quase tudo mas aqui ficam mesmo bem ) e ao tomate tiro apenas a pele e migo depois tudo para cima da cebola já atormentada pelos calores da panela . Uso o mínimo de água pois gosto das migas consistentes .
Tomate e orégãos: uma combinação que resulta sempre! ;)
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